Um dos versículos mais famosos dentre os sermões que Jesus pregou talvez seja “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1). E a aplicação mais usada no meio evangélico para esse versículo é uma certa imunidade em relação às atitudes. Por exemplo, há anos o meio evangélico brasileiro tem usado óleos “ungidos”, rosas, lenços, punhados de sal, sabonetes e toda espécie de bugiganga “espiritual” para atrair as bênçãos de Deus.
Só para vermos a bobagem que é isso, a palavra rosa aparece apenas duas vezes em toda a Bíblia. A primeira citação é em Cantares 2.1, onde a esposa diz ser a rosa de Sarom para seu esposo. Essa é uma clara comparação da igreja, que deve ser linda e perfumada para Jesus, seu noivo. A segunda citação é em Is 35.1 e mostra que a ação do Espírito de Deus vai restaurar as forças dos que confiam em Deus. Ora, nesse sentido a boa interpretação dos textos mostra que a ação de Deus é para preparar a Sua noiva para o grande encontro das bodas do Cordeiro. Nada a ver com mandingas para atrair bênçãos temporais de Deus de cura, de libertação e de prosperidade.
Quando os praticantes dessas atitudes são confrontados, utilizam o texto de Mateus contra o julgamento entre as pessoas e associam, a este versículo, outro ainda mais enfático: “Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas” (Sl 105.15). Diante dessa afirmação (e fora de contexto), quando o pastor fala em voz mais alta, com a testa franzida, gesticulando com os braços e gritando glória a Deus, é natural que as pessoas tenham medo do dito cujo, ou o receio de questionar se o tal pastor está realmente certo. Ainda mais se esse pregador tiver um canal de televisão, ou vários programas televisivos, escreve livros, grava CDs, participa de inúmeros congressos e tem milhares de seguidores, ele só pode estar certo!
Hoje enfrentamos uma deificação dos líderes evangélicos no Brasil. Os pastores e os ministros de louvor são entronizados cegamente pelas pessoas sem que haja nenhum tipo de avaliação do que é pregado e do que é feito. A prática, diga-se, salutar e bíblica, de avaliar o conteúdo não é mais ensinada nas igrejas e, pelo que percebo, tem sido negada. Pastores internacionais (e os tupiniquins também!) quando profetizam suas curas e milagres jamais podem ser questionados em suas atitudes. Quando os milagres por eles reivindicados não acontecem, refletem a falta de fé da pessoa. Como um homem desses vai se explicar para uma mãe que não teve o milagre da cura de seu filho e ele acabou morrendo? Como um homem desses, que mandou essa mãe parar de dar os remédios, vai se explicar diante das autoridades?
Infelizmente os grandes líderes evangélicos brasileiros estão envoltos por uma aura de santidade e de correção que, se alguém ousa questioná-los, logo vai ser acusado de rebelde, de atacar um ungido de Deus e de estar fazendo um julgamento. Tente pedir uma explicação para uma pessoa que segue esses líderes da razão de se usar uma “rosa consagrada” para alcançar a bênção de Deus. Eu já fiz. E a resposta que eu recebi foi “mas foi o fulano de tal que mandou e ele é de Deus”. Ouse questionar os reais motivos de um líder evangélico estar preso e até sua conversão vai ser posta em xeque. Ouse questionar por que uma pessoa engatinha diante de Deus numa apresentação e você terá questionado os seus sentimentos em louvar a Deus. Ouse questionar se algum ensinamento é realmente bíblico. Verifique se a doutrina ensinada nos diversos programas de televisão é realmente bíblica. No primeiro versículo de Mateus 7, Jesus nos proíbe de fazermos julgamentos e sentenciarmos as pessoas. Mas no final desse capítulo Ele nos adverte para avaliarmos onde estamos construindo nossa casa, se na rocha ou na areia. Em 1 João 4.1 somos advertidos que nem todos os espíritos procedem de Deus. Em 1 Tessalonicenses 5.21 somos instados a verificar tudo e reter apenas o que é bom. Em Efésios 4.14 somos advertidos a não sermos conduzidos pelas astúcias dos homens.
Quem foi que disse que os pastores não erram?
Quem foi que disse que tudo que o líder de louvor faz é correto?
Quem foi que disse que toda revelação vem da parte de Deus?
Quem foi que disse que a esposa do pastor deve ser a pastora da igreja local? Quem foi que disse que as músicas que louvam a Deus são todas parecidas, na métrica e nas letras?
Quem foi que disse que estamos em avivamento no Brasil?
Quem foi que disse que o louvor das igrejas deve ser igual aos grupos que mais vendem no Brasil? Ou na Austrália?
Quem foi que disse que as pregações devem ser parecidas com a dos pastores da televisão?
Quem foi que disse que eu devo contribuir para os programas de rádio e de televisão não acabarem?
Quem foi que disse que Deus está interessado na minha prosperidade financeira?
Quem foi que disse que o Brasil é do Senhor Jesus?
Quem foi que disse que o Paquistão não é do Senhor Jesus?
Será mesmo que foi Deus quem revelou tudo isso?
sábado, 17 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
A velha cruz
Ah! A cruz de Cristo!
Esta sim, tornou-se a propiciação dos desejos desenfreados dos homens. A luz para os que buscam a felicidade material. A resenha dos sonhos ufanistas dos corações amargurados deste mundo. O emblema da felicidade autêntica, da felicidade instantânea. O escudo que dilacera os inimigos. O amuleto das finanças inseguras. A proteção dos pescoços desavisados. O esconderijo dos pecados dos pecadores não arrependidos.
Das várias formas que se deu a ela, a sua essência quase se perdeu. A cruz está alegórica e já não possui literalidade. Para onde foi o seu escândalo? O que houve com seu peso? Onde estão seus pregos? Onde estão as manchas do imaculado sangue do filho de Deus aspergido sobre seus discípulos? O cálice tão pesado a Jesus, tornou-se símbolo benévolo de uma sociedade triunfalista que determina sobre as chagas do Cristo crucificado as suas bênçãos.
Esta cruz antes tão odiada e rejeitada, agora, tão desejada e idolatrada. Constantinos ainda emergem da imortal religiosidade bradando: “Por este sinal venceremos! A tudo e a todos”. Não há mais quem se envergonhe, não há quem seja perseguido. A mensagem do calvário fora dilacerada pelo pragmatismo gospel, e pela contingência da sociedade “cristã” ante ao Evangelho. Recebe-se o Cristo crucificado, porém, ignora-se a cruz da ignomínia própria.
Ouvem-se gritos: “Queremos Cristo!”. Ouvem-se sussurros: “Mas, não a Sua cruz!”. Logo, ouve-se uma solução funesta: “Receba a Cristo, e simplesmente finja carregar a Sua cruz”. Em meio ao desprezo do discipulado da cruz de Cristo, em meio à tentação de abandoná-la, surge um grito da reforma, um eco de suas teses, sobre uma geração que desconhece o valor da cruz.
"Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo "Paz, paz!" sem que haja paz!"; "Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!"
Esta sim, tornou-se a propiciação dos desejos desenfreados dos homens. A luz para os que buscam a felicidade material. A resenha dos sonhos ufanistas dos corações amargurados deste mundo. O emblema da felicidade autêntica, da felicidade instantânea. O escudo que dilacera os inimigos. O amuleto das finanças inseguras. A proteção dos pescoços desavisados. O esconderijo dos pecados dos pecadores não arrependidos.
Das várias formas que se deu a ela, a sua essência quase se perdeu. A cruz está alegórica e já não possui literalidade. Para onde foi o seu escândalo? O que houve com seu peso? Onde estão seus pregos? Onde estão as manchas do imaculado sangue do filho de Deus aspergido sobre seus discípulos? O cálice tão pesado a Jesus, tornou-se símbolo benévolo de uma sociedade triunfalista que determina sobre as chagas do Cristo crucificado as suas bênçãos.
Esta cruz antes tão odiada e rejeitada, agora, tão desejada e idolatrada. Constantinos ainda emergem da imortal religiosidade bradando: “Por este sinal venceremos! A tudo e a todos”. Não há mais quem se envergonhe, não há quem seja perseguido. A mensagem do calvário fora dilacerada pelo pragmatismo gospel, e pela contingência da sociedade “cristã” ante ao Evangelho. Recebe-se o Cristo crucificado, porém, ignora-se a cruz da ignomínia própria.
Ouvem-se gritos: “Queremos Cristo!”. Ouvem-se sussurros: “Mas, não a Sua cruz!”. Logo, ouve-se uma solução funesta: “Receba a Cristo, e simplesmente finja carregar a Sua cruz”. Em meio ao desprezo do discipulado da cruz de Cristo, em meio à tentação de abandoná-la, surge um grito da reforma, um eco de suas teses, sobre uma geração que desconhece o valor da cruz.
"Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo "Paz, paz!" sem que haja paz!"; "Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!"
A Importância da Doutrina Certa
Seria impossível exagerar na ênfase à importância da doutrina certa na vida do cristão. Pensar corretamente acerca de todas as questões espirituais é imperativo, se pretendemos viver corretamente. Como os homens não colhem uvas dos espinheiros, nem figos dos abrolhos, assim o bom caráter não se desenvolve do ensino errôneo. A palavra doutrina significa simplesmente crenças sustentadas e ensinadas. A sacra tarefa de todos os cristãos, primeiramente como crentes e secundariamente como mestres de crenças religiosas, consiste em assegurar-se de que estas crenças correspondem exatamente à verdade.
Uma precisa harmonia entre as crenças e os fatos constitui a legitimidade da doutrina. Não podemos permitir-nos menos que isso. Os apóstolos não somente ensinavam a verdade, mas também pelejavam por sua pureza contra toda e qualquer pessoa que a corrompesse. As epístolas paulinas resistem a todos os esforços dos falsos mestres para introduzirem excentricidades doutrinárias. As epístolas de João apresentam contundente condenação dos mestres que importunavam a novel igreja negando a encarnação e lançando dúvidas sobre a doutrina da Trindade; e Judas, em sua breve mas poderosa epístola, sobe às culminâncias de mais ardente eloqüência quando despeja desprezo sobre os maus mestres que querem desviar os santos.
Cada geração de cristãos deve examinar as suas crenças. Se bem que a verdade mesma é imutável, as mentes dos homens são vasos porosos dos quais a verdade pode escoar-se e nas quais o erro pode infiltrar-se, diluindo a verdade que contêm. O coração humano é herético por natureza, e corre para o erro com a mesma naturalidade com que um jardim vira mato. Tudo que um homem, uma igreja ou uma denominação precisa, para garantir a deterioração da doutrina, é tomar tudo como líquido e certo, e não fazer nada. O jardim negligenciado logo será dominado pelas ervas daninhas; o coração que deixa de cultivar a verdade e de arrancar o erro, em pouco tempo será um deserto teológico; a igreja ou denominação que cresce descuidada no caminho da verdade, não demorará a ver-se perdida e atolada em alguma baixada lodosa da qual não há como fugir.
Em todos os campos do pensamento e das atividades dos homens a precisão é considerada virtude. Enganar-se, ainda que ligeiramente, é atrair grave prejuízo, senão a própria morte. Só no pensamento religioso a fidelidade à verdade é vista como um defeito. Quando os homens lidam com coisas terrenas e temporais, exigem a verdade; quando passam a considerar as coisas celestiais e eternas, eles se fecham e hesitam, como se a verdade não pudesse ser descoberta ou não tivesse a mínima importância. Montaigne dizia que o mentiroso é valente para com Deus e covarde para com os homens; pois o mentiroso enfrenta a Deus e cede aos homens. Não é isso uma simples prova de incredulidade? Não equivale a dizer que o mentiroso crê nos homens mas não está convencido da existência de Deus, e está disposto a arriscar-se ao desagrado de um Deus que talvez não exista, e não ao desagrado do homem, que obviamente existe?
Penso também que, por trás do descuido humano em religião, está essa incredulidade básica e profunda. O cientista, o médico, o navegador tratam de matérias que sabem que são reais; e por serem reais, o mundo exige que, tanto o mestre como o que faz o trabalho prático sejam peritos no conhecimento delas. Somente do mestre de coisas espirituais se requer que seja inseguro em suas crenças, ambíguo em seus comentários e tolerante para com quaisquer opiniões religiosas expressas por quem quer que seja, até mesmo pelo menos qualificado para ter alguma opinião.
A nebulosidade sempre foi a marca do liberal
Quando as Sagradas Escrituras são rejeitadas como a autoridade final quanto à crença religiosa, alguma coisa terá de ser encontrada para tomar-lhe o lugar. Historicamente esse “alguma coisa” foi a razão ou o sentimento; se foi o sentimento, o humanismo prevaleceu. Às vezes houve uma mistura dos dois, como se pode ver atualmente nas igrejas liberais, algumas conhecidas por emergentes. Estas não renunciam inteiramente à Bíblia, e tampouco crêem nela completamente; o resultado é um obscuro corpo de crenças que lembra mais um nevoeiro que uma montanha, corpo nebuloso em que qualquer coisa pode ser verdadeira, mas não se deve confiar em coisa alguma como certamente verdadeira.
Já nos acostumamos às sombrias lufadas de plúmbea névoa que passam por doutrina nas igrejas modernistas, e delas nada de melhor esperamos, mas é causa de real alarme que ultimamente a névoa começou a dar os seus primeiros passos em muitas igrejas evangélicas. De algumas fontes anteriormente inatacáveis estão vindo agora vagos pronunciamentos que consistem numa tímida mescla de Escritura, ciência e sentimento humano que não faz jus a nenhum dos seus ingredientes, porque cada qual se presta para anular os outros. Alguns dos nossos irmãos conservadores parecem estar trabalhando sob a impressão de que são pensadores avançados porque estão reconsiderando o evolucionismo e reavaliando várias doutrinas bíblicas, ou até mesmo a inspiração divina; mas tão longe estão de serem pensadores avançados que não passam de tímidos seguidores do modernismo – cinqüenta anos atrás do desfile.
Pouco a pouco os cristãos conservadores destes dias estão sofrendo lavagem cerebral. Uma prova disso é que grupos cada vez maiores deles vão ficando com vergonha de serem achados inequivocamente ao lado da verdade. Eles dizem que crêem, mas as suas crenças foram diluídas a tal ponto que é impossível defini-las claramente.
“As crenças bem definidas sempre foram acompanhadas de energia moral”
Os grandes santos sempre foram dogmáticos. Precisamos voltar agora mesmo a um pacífico dogmatismo, capaz de sorrir ao mesmo tempo que se mantém inflexível e firme na Palavra de Deus que vive e permanece para sempre.
A.W.Tozer
Extraído do livro “Homem: Habitação de Deus”, págs. 133-135.
Uma precisa harmonia entre as crenças e os fatos constitui a legitimidade da doutrina. Não podemos permitir-nos menos que isso. Os apóstolos não somente ensinavam a verdade, mas também pelejavam por sua pureza contra toda e qualquer pessoa que a corrompesse. As epístolas paulinas resistem a todos os esforços dos falsos mestres para introduzirem excentricidades doutrinárias. As epístolas de João apresentam contundente condenação dos mestres que importunavam a novel igreja negando a encarnação e lançando dúvidas sobre a doutrina da Trindade; e Judas, em sua breve mas poderosa epístola, sobe às culminâncias de mais ardente eloqüência quando despeja desprezo sobre os maus mestres que querem desviar os santos.
Cada geração de cristãos deve examinar as suas crenças. Se bem que a verdade mesma é imutável, as mentes dos homens são vasos porosos dos quais a verdade pode escoar-se e nas quais o erro pode infiltrar-se, diluindo a verdade que contêm. O coração humano é herético por natureza, e corre para o erro com a mesma naturalidade com que um jardim vira mato. Tudo que um homem, uma igreja ou uma denominação precisa, para garantir a deterioração da doutrina, é tomar tudo como líquido e certo, e não fazer nada. O jardim negligenciado logo será dominado pelas ervas daninhas; o coração que deixa de cultivar a verdade e de arrancar o erro, em pouco tempo será um deserto teológico; a igreja ou denominação que cresce descuidada no caminho da verdade, não demorará a ver-se perdida e atolada em alguma baixada lodosa da qual não há como fugir.
Em todos os campos do pensamento e das atividades dos homens a precisão é considerada virtude. Enganar-se, ainda que ligeiramente, é atrair grave prejuízo, senão a própria morte. Só no pensamento religioso a fidelidade à verdade é vista como um defeito. Quando os homens lidam com coisas terrenas e temporais, exigem a verdade; quando passam a considerar as coisas celestiais e eternas, eles se fecham e hesitam, como se a verdade não pudesse ser descoberta ou não tivesse a mínima importância. Montaigne dizia que o mentiroso é valente para com Deus e covarde para com os homens; pois o mentiroso enfrenta a Deus e cede aos homens. Não é isso uma simples prova de incredulidade? Não equivale a dizer que o mentiroso crê nos homens mas não está convencido da existência de Deus, e está disposto a arriscar-se ao desagrado de um Deus que talvez não exista, e não ao desagrado do homem, que obviamente existe?
Penso também que, por trás do descuido humano em religião, está essa incredulidade básica e profunda. O cientista, o médico, o navegador tratam de matérias que sabem que são reais; e por serem reais, o mundo exige que, tanto o mestre como o que faz o trabalho prático sejam peritos no conhecimento delas. Somente do mestre de coisas espirituais se requer que seja inseguro em suas crenças, ambíguo em seus comentários e tolerante para com quaisquer opiniões religiosas expressas por quem quer que seja, até mesmo pelo menos qualificado para ter alguma opinião.
A nebulosidade sempre foi a marca do liberal
Quando as Sagradas Escrituras são rejeitadas como a autoridade final quanto à crença religiosa, alguma coisa terá de ser encontrada para tomar-lhe o lugar. Historicamente esse “alguma coisa” foi a razão ou o sentimento; se foi o sentimento, o humanismo prevaleceu. Às vezes houve uma mistura dos dois, como se pode ver atualmente nas igrejas liberais, algumas conhecidas por emergentes. Estas não renunciam inteiramente à Bíblia, e tampouco crêem nela completamente; o resultado é um obscuro corpo de crenças que lembra mais um nevoeiro que uma montanha, corpo nebuloso em que qualquer coisa pode ser verdadeira, mas não se deve confiar em coisa alguma como certamente verdadeira.
Já nos acostumamos às sombrias lufadas de plúmbea névoa que passam por doutrina nas igrejas modernistas, e delas nada de melhor esperamos, mas é causa de real alarme que ultimamente a névoa começou a dar os seus primeiros passos em muitas igrejas evangélicas. De algumas fontes anteriormente inatacáveis estão vindo agora vagos pronunciamentos que consistem numa tímida mescla de Escritura, ciência e sentimento humano que não faz jus a nenhum dos seus ingredientes, porque cada qual se presta para anular os outros. Alguns dos nossos irmãos conservadores parecem estar trabalhando sob a impressão de que são pensadores avançados porque estão reconsiderando o evolucionismo e reavaliando várias doutrinas bíblicas, ou até mesmo a inspiração divina; mas tão longe estão de serem pensadores avançados que não passam de tímidos seguidores do modernismo – cinqüenta anos atrás do desfile.
Pouco a pouco os cristãos conservadores destes dias estão sofrendo lavagem cerebral. Uma prova disso é que grupos cada vez maiores deles vão ficando com vergonha de serem achados inequivocamente ao lado da verdade. Eles dizem que crêem, mas as suas crenças foram diluídas a tal ponto que é impossível defini-las claramente.
“As crenças bem definidas sempre foram acompanhadas de energia moral”
Os grandes santos sempre foram dogmáticos. Precisamos voltar agora mesmo a um pacífico dogmatismo, capaz de sorrir ao mesmo tempo que se mantém inflexível e firme na Palavra de Deus que vive e permanece para sempre.
A.W.Tozer
Extraído do livro “Homem: Habitação de Deus”, págs. 133-135.
Cansei da malfadada Teologia da Prosperidade
• Cansei de ouvir pregadores da prosperidade dizerem que precisamos decretar a nossa vitória e visualizar a nossa bênção material;
• Cansei de ouvir pregadores da prosperidade gritarem para Deus reivindicando suas petições;
• Cansei de ouvir pregadores da prosperidade dizendo que salário mínimo não é coisa de crente;
• Cansei dessa teologia que defende que o crente deve morar em mansão, ter carrões, muito dinheiro e nunca ficar doente;
• Cansei dessa teologia que valoriza mais as coisas terrenas do que aquelas que são do céu;
• Cansei dessa teologia da barganha com Deus, onde você contribui e Ele devolve com juros, correção monetária e muito lucro;
• Cansei dessa teologia de fé na fé;
• Cansei dessa teologia que ama mais o dinheiro que o próximo;
• Cansei dessa teologia consumista, utilitarista e que trata Deus como o Papai Noel;
• Cansei dessa teologia da ganância, cujo principal objetivo é fazer com que as pessoas atinjam a independência financeira;
• Cansei dessa teologia da auto-ajuda, auto-estima e auto-aceitação;
• Cansei dessa teologia que argumenta que Jesus nunca foi pobre;
• Cansei dessa teologia que tem criado uma geração de decepcionados nas igrejas;
• Cansei dessa teologia pregada e defendida por Edir Macedo, R.R. Soares, Robson Rodovalho, Oral Roberts, T.L. Osborn, Kenneth Hagin, Kenneth Copeland, Benny Hinn e muitos outros.
• Cansei da teologia da prosperidade, pois a Bíblia diz: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam“. (Mat.6.19,20);
• Cansei, não da prosperidade – que é dádiva de Deus, mas da teologia que faz dela o principal foco da vida cristã, em detrimento da salvação e das bênçãos espirituais.
Por que não voltar ao evangelho genuíno que aponta para a cruz e faz-nos descobrir beleza no Salvador? nEle estamos, nos movemos e existimos. Jesus é a dádiva de Deus maravilhosa demais para se descrever com palavras.
Para onde estamos indo?
• Cansei de ouvir pregadores da prosperidade gritarem para Deus reivindicando suas petições;
• Cansei de ouvir pregadores da prosperidade dizendo que salário mínimo não é coisa de crente;
• Cansei dessa teologia que defende que o crente deve morar em mansão, ter carrões, muito dinheiro e nunca ficar doente;
• Cansei dessa teologia que valoriza mais as coisas terrenas do que aquelas que são do céu;
• Cansei dessa teologia da barganha com Deus, onde você contribui e Ele devolve com juros, correção monetária e muito lucro;
• Cansei dessa teologia de fé na fé;
• Cansei dessa teologia que ama mais o dinheiro que o próximo;
• Cansei dessa teologia consumista, utilitarista e que trata Deus como o Papai Noel;
• Cansei dessa teologia da ganância, cujo principal objetivo é fazer com que as pessoas atinjam a independência financeira;
• Cansei dessa teologia da auto-ajuda, auto-estima e auto-aceitação;
• Cansei dessa teologia que argumenta que Jesus nunca foi pobre;
• Cansei dessa teologia que tem criado uma geração de decepcionados nas igrejas;
• Cansei dessa teologia pregada e defendida por Edir Macedo, R.R. Soares, Robson Rodovalho, Oral Roberts, T.L. Osborn, Kenneth Hagin, Kenneth Copeland, Benny Hinn e muitos outros.
• Cansei da teologia da prosperidade, pois a Bíblia diz: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam“. (Mat.6.19,20);
• Cansei, não da prosperidade – que é dádiva de Deus, mas da teologia que faz dela o principal foco da vida cristã, em detrimento da salvação e das bênçãos espirituais.
Por que não voltar ao evangelho genuíno que aponta para a cruz e faz-nos descobrir beleza no Salvador? nEle estamos, nos movemos e existimos. Jesus é a dádiva de Deus maravilhosa demais para se descrever com palavras.
Para onde estamos indo?
João, o apóstolo
Ele é um homem velho, aquele sentado no banco, encostado na parede. Seus olhos estão fechados e o rosto, tranquilo. Não fosse por sua mão alisando a barba, poderíamos pensar que está dormindo.
Alguns na sala de fato acham que ele está meio adormecido. Ele sempre faz isso durante os cultos. Enquanto o povo canta, seus olhos se fecham e o queixo cai até repousar em seu peito. Ali, fica imóvel. Silencioso.
Aqueles que o conhecem não se enganam. Sabem que ele não está dormitando. Por cima da música, ele viaja, voltando, voltando até que seja moço outra vez. Forte outra vez. Até que esteja ali outra vez. Ali, na praia, com Tiago e os apóstolos. Ali, no caminho, com os discípulos e as mulheres. Ali, no templo, com Caifás e os acusadores.
Já faz sessenta anos e João ainda parece o mesmo. As décadas levaram suas forças, mas não carregaram suas lembranças. Os anos obscureceram-lhe os olhos, porém não a sua visão. As estações podem ter enrugado o seu rosto, mas não diminuíram o seu amor.
Ele havia estado com Deus. Deus estivera com ele. Como poderia esquecer?
Daquele vinho que antes fora água, João ainda conseguia sentir o sabor.
Da lama colocada sobre os olhos do homem cego, ele ainda se lembrava.
O aroma do unguento de Maria, o qual enchia a sala, ele ainda podia sentir.
E a voz? Oh, a voz de Jesus, João ainda podia ouvi-la.
Eu sou a luz do mundo...Eu sou a porta...Eu sou o caminho, e a verdade e a vida.
Eu virei outra vez, prometo, e os levarei para estar comigo... virei outra vez e vos levarei para mim mesmo.
Na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna.
João podia ouvi-lo; podia vê-lo. As cenas estavam marcadas em seu coração. As palavras, marcadas na sua alma. João nunca iria se esquecer. Como poderia? Ele havia estado lá.
Ele abre os olhos e pisca. A música parou. O ensino começou. João olha para os ouvintes e ouve o professor.
“Se pelo menos você pudesse ter estado ali”, ele pensa.
Mas não estava. Muitos não estavam. Muitos não eram sequer nascidos naquela época. E, muitos dos que lá tinham estado, agora eram mortos. Pedro, Tiago, Natanael, Marta, Felipe. Todos mortos. Até mesmo Paulo, o apóstolo que veio depois, estava morto.
Somente João restou.
Ele olha mais uma vez para a igreja. Poucos, mas ansiosos. Eles se inclinam para a frente a fim de ouvir o professor. João ouve. Que tarefa! Falar de alguém que nunca viu. Explicar palavras que nunca ouviu. João está ali, caso o professor dele precise.
No entanto, o que acontecerá quando João tiver partido? O que fará o professor quando a voz de João estiver silenciosa e sua língua, imóvel? Quem lhes contará como Jesus acalmou as ondas? Eles saberão como Ele alimentou milhares de pessoas? Se lembrarão de como orou pela unidade?
Como saberão? Se pelo menos pudessem ter estado lá...
De repente, em seu coração, João sabe o que fazer. Mais tarde, sob a luz de uma tocha, o velho pescador desenrola o pergaminho e começa a escrever a história da sua vida.
No princípio, era o Verbo...
Alguns na sala de fato acham que ele está meio adormecido. Ele sempre faz isso durante os cultos. Enquanto o povo canta, seus olhos se fecham e o queixo cai até repousar em seu peito. Ali, fica imóvel. Silencioso.
Aqueles que o conhecem não se enganam. Sabem que ele não está dormitando. Por cima da música, ele viaja, voltando, voltando até que seja moço outra vez. Forte outra vez. Até que esteja ali outra vez. Ali, na praia, com Tiago e os apóstolos. Ali, no caminho, com os discípulos e as mulheres. Ali, no templo, com Caifás e os acusadores.
Já faz sessenta anos e João ainda parece o mesmo. As décadas levaram suas forças, mas não carregaram suas lembranças. Os anos obscureceram-lhe os olhos, porém não a sua visão. As estações podem ter enrugado o seu rosto, mas não diminuíram o seu amor.
Ele havia estado com Deus. Deus estivera com ele. Como poderia esquecer?
Daquele vinho que antes fora água, João ainda conseguia sentir o sabor.
Da lama colocada sobre os olhos do homem cego, ele ainda se lembrava.
O aroma do unguento de Maria, o qual enchia a sala, ele ainda podia sentir.
E a voz? Oh, a voz de Jesus, João ainda podia ouvi-la.
Eu sou a luz do mundo...Eu sou a porta...Eu sou o caminho, e a verdade e a vida.
Eu virei outra vez, prometo, e os levarei para estar comigo... virei outra vez e vos levarei para mim mesmo.
Na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna.
João podia ouvi-lo; podia vê-lo. As cenas estavam marcadas em seu coração. As palavras, marcadas na sua alma. João nunca iria se esquecer. Como poderia? Ele havia estado lá.
Ele abre os olhos e pisca. A música parou. O ensino começou. João olha para os ouvintes e ouve o professor.
“Se pelo menos você pudesse ter estado ali”, ele pensa.
Mas não estava. Muitos não estavam. Muitos não eram sequer nascidos naquela época. E, muitos dos que lá tinham estado, agora eram mortos. Pedro, Tiago, Natanael, Marta, Felipe. Todos mortos. Até mesmo Paulo, o apóstolo que veio depois, estava morto.
Somente João restou.
Ele olha mais uma vez para a igreja. Poucos, mas ansiosos. Eles se inclinam para a frente a fim de ouvir o professor. João ouve. Que tarefa! Falar de alguém que nunca viu. Explicar palavras que nunca ouviu. João está ali, caso o professor dele precise.
No entanto, o que acontecerá quando João tiver partido? O que fará o professor quando a voz de João estiver silenciosa e sua língua, imóvel? Quem lhes contará como Jesus acalmou as ondas? Eles saberão como Ele alimentou milhares de pessoas? Se lembrarão de como orou pela unidade?
Como saberão? Se pelo menos pudessem ter estado lá...
De repente, em seu coração, João sabe o que fazer. Mais tarde, sob a luz de uma tocha, o velho pescador desenrola o pergaminho e começa a escrever a história da sua vida.
No princípio, era o Verbo...
Nunca diga: Que Deus possa!
Uma frase que aos poucos vai se fortalecendo em nossas igrejas e se institucionalizando no meio cristão: “Que Deus possa”.
Não se sabe exatamente onde, ou quem foi o autor de tamanho absurdo. Só se sabe, com exatidão, que o erro dessa afirmação encontrou enumeráveis admiradores dispostos a continuar repetindo e ostentando-a nos púlpitos e até em livros.
Não há dolo nisto, porém simplicidade ou força de expressão neste nível também torna-se inadmissível, especialmente no meio teológico onde vivemos.
Dizer: “Que Deus possa” equivale a dizer: “tomara que possa”. É o mesmo que colocar em dúvida a onipotência de Deus e admiti-lO como um ser limitado como nós. Proferir essa expressão é o mesmo que admitir que alguma coisa Ele não pode e, ainda por cima, comete-se o pecado da emulação previsto em Gálatas 5.20.
O fato de Deus fazer ou não nunca esteve, não está e jamais estará relacionado ao Seu poder e, sim, ao Seu querer. Em vez de dizermos que Deus possa poderíamos dizer que Deus queira, que Deus Se digne ou que Deus Se compraza.
Ele sempre pôde, sempre pode e sempre poderá. Se não fizer, não será por falta de poder, e sim, de querer. Contudo, nenhuma ação humana reduzirá ou aumentará o poder que há em Deus. Seu querer, sim, este será movido pela fé, humildade e rendição total a Ele.
Não se sabe exatamente onde, ou quem foi o autor de tamanho absurdo. Só se sabe, com exatidão, que o erro dessa afirmação encontrou enumeráveis admiradores dispostos a continuar repetindo e ostentando-a nos púlpitos e até em livros.
Não há dolo nisto, porém simplicidade ou força de expressão neste nível também torna-se inadmissível, especialmente no meio teológico onde vivemos.
Dizer: “Que Deus possa” equivale a dizer: “tomara que possa”. É o mesmo que colocar em dúvida a onipotência de Deus e admiti-lO como um ser limitado como nós. Proferir essa expressão é o mesmo que admitir que alguma coisa Ele não pode e, ainda por cima, comete-se o pecado da emulação previsto em Gálatas 5.20.
O fato de Deus fazer ou não nunca esteve, não está e jamais estará relacionado ao Seu poder e, sim, ao Seu querer. Em vez de dizermos que Deus possa poderíamos dizer que Deus queira, que Deus Se digne ou que Deus Se compraza.
Ele sempre pôde, sempre pode e sempre poderá. Se não fizer, não será por falta de poder, e sim, de querer. Contudo, nenhuma ação humana reduzirá ou aumentará o poder que há em Deus. Seu querer, sim, este será movido pela fé, humildade e rendição total a Ele.
Com valor, sem temor
O Brasil é bom porque aqui todo mundo é religioso. Uma pesquisa revelou que 99% dos brasileiros acreditam em Deus. Isso é garantia da integridade ética do nosso povo.
Quem acredita em Deus é mais confiável do que quem não acredita. Quem acredita em Deus anda na linha por medo do castigo. Dando-se crédito às Sagradas Escrituras os nossos 99% só são batidos pela população do inferno pois, segundo o apóstolo Tiago, 100% dos demônios não só acreditam em Deus como estremecem ao ouvir o seu nome. Ah! Como minha alma fica tranquila ao ver os crucifixos nas paredes dos gabinetes dos deputados e senadores e as Bíblias nas mãos dos pastores evangélicos...
Movido pelo mais sincero sentimento religioso e certo de que 99% dos congressistas não só acreditam em Deus como também estremecem ao ouvir o Seu nome, achei adequado fazer algumas considerações teológicas apropriadas ao momento de escolher os nossos representantes.
Vereadores, deputados, senadores e o presidente são nossos "representantes". Um "representante" é uma pessoa que toma o lugar de uma outra. Ela age como se fosse a outra. Pois essa palavra "representante" tem uma gravidade teológica: todo o drama da salvação que nos livra do fogo do inferno gira em torno dela. Para que nossas dívidas pecaminosas fossem pagas a N.S., Jesus Cristo teve de se "esvaziar" de todos os seus atributos divinos a fim de tomar o nosso lugar e nos "representar" perante Deus Pai. Se tal não tivesse acontecido todos estaríamos condenados ao sofrimento eterno.
A essência da "representatividade" é a "igualdade" entre o "representado" e o seu "representante". Uma raposa não pode representar as galinhas. Um heterossexual não pode representar os "gays". O dono da fábrica não pode representar os operários. O representante, assim, não pode ser "mais" que o representado. Esse "mais" é um privilégio, "lei privada" que vale apenas para um grupinho.
Na democracia não há privilégios. Todos são iguais perante a lei. Quando um Brasilino qualquer rouba um pacote de manteiga ou um boné ele vai para a cadeia. Vai pra cadeia porque a lei não sabe que ele é um Brasilino qualquer. E não sabe por ser cega. Se é cega para o Brasilino, é cega também para vereadores, deputados e senadores. Essa é a razão por que esses senhores, quando pegos com as mãos cheias de dinheiro público, vão também para a cadeia. Como é bem sabido as cadeias estão cheias deles... Representantes têm de ser iguais ao povo. Não têm privilégios. Não têm aposentadoria em condições especiais, não se valem de foros especiais para se safar. E nem votam os seus próprios salários porque os Brasilinos não votam os seus salários.
Estou certo de que, a fim de derrotar o 1% que não acredita em Deus e que, por isso mesmo se candidata para ter privilégios, os restantes 99% de legítimos representantes do povo, no início do seu mandato, haverão de votar uma lei que declare extintos todos e quaisquer privilégios que os tornam diferentes dos Brasilinos.
Por isso o momento de eleição é um momento de alegria teológica e democrática. Nossos candidatos não só acreditam em Deus como estremecem ao ouvir o seu nome...
texto de Rubem Alves publicado em 22/8/06 na Folha de S.Paulo.
Quem acredita em Deus é mais confiável do que quem não acredita. Quem acredita em Deus anda na linha por medo do castigo. Dando-se crédito às Sagradas Escrituras os nossos 99% só são batidos pela população do inferno pois, segundo o apóstolo Tiago, 100% dos demônios não só acreditam em Deus como estremecem ao ouvir o seu nome. Ah! Como minha alma fica tranquila ao ver os crucifixos nas paredes dos gabinetes dos deputados e senadores e as Bíblias nas mãos dos pastores evangélicos...
Movido pelo mais sincero sentimento religioso e certo de que 99% dos congressistas não só acreditam em Deus como também estremecem ao ouvir o Seu nome, achei adequado fazer algumas considerações teológicas apropriadas ao momento de escolher os nossos representantes.
Vereadores, deputados, senadores e o presidente são nossos "representantes". Um "representante" é uma pessoa que toma o lugar de uma outra. Ela age como se fosse a outra. Pois essa palavra "representante" tem uma gravidade teológica: todo o drama da salvação que nos livra do fogo do inferno gira em torno dela. Para que nossas dívidas pecaminosas fossem pagas a N.S., Jesus Cristo teve de se "esvaziar" de todos os seus atributos divinos a fim de tomar o nosso lugar e nos "representar" perante Deus Pai. Se tal não tivesse acontecido todos estaríamos condenados ao sofrimento eterno.
A essência da "representatividade" é a "igualdade" entre o "representado" e o seu "representante". Uma raposa não pode representar as galinhas. Um heterossexual não pode representar os "gays". O dono da fábrica não pode representar os operários. O representante, assim, não pode ser "mais" que o representado. Esse "mais" é um privilégio, "lei privada" que vale apenas para um grupinho.
Na democracia não há privilégios. Todos são iguais perante a lei. Quando um Brasilino qualquer rouba um pacote de manteiga ou um boné ele vai para a cadeia. Vai pra cadeia porque a lei não sabe que ele é um Brasilino qualquer. E não sabe por ser cega. Se é cega para o Brasilino, é cega também para vereadores, deputados e senadores. Essa é a razão por que esses senhores, quando pegos com as mãos cheias de dinheiro público, vão também para a cadeia. Como é bem sabido as cadeias estão cheias deles... Representantes têm de ser iguais ao povo. Não têm privilégios. Não têm aposentadoria em condições especiais, não se valem de foros especiais para se safar. E nem votam os seus próprios salários porque os Brasilinos não votam os seus salários.
Estou certo de que, a fim de derrotar o 1% que não acredita em Deus e que, por isso mesmo se candidata para ter privilégios, os restantes 99% de legítimos representantes do povo, no início do seu mandato, haverão de votar uma lei que declare extintos todos e quaisquer privilégios que os tornam diferentes dos Brasilinos.
Por isso o momento de eleição é um momento de alegria teológica e democrática. Nossos candidatos não só acreditam em Deus como estremecem ao ouvir o seu nome...
texto de Rubem Alves publicado em 22/8/06 na Folha de S.Paulo.
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